terça-feira, 11 de julho de 2017

Opinião: O Assassino do Bobo (Saga Assassino e o Bobo #1)

Título Original: Fool's Assassin (2014)
Autor: Robin Hobb
Tradução: Jorge Candeias
ISBN: 9789897730528
Editora: Edições Saída de Emergência (2017)

Sinopse:

Tomé Texugo tem levado uma vida pacífica há anos, retirado no campo na companhia da sua amada Moli, numa vasta propriedade que lhe foi agraciada por serviços leais à coroa. Mas por detrás da sua respeitável fachada de homem de meia-idade, esconde-se um passado turbulento e de violência. Na verdade, ele é FitzCavalaria Visionário, um bastardo real, utilizador de estranhas magias e assassino. Um homem que tudo arriscou pelo seu rei, com grandes perdas pessoais. Até que, numa noite fatídica, um mensageiro chega com uma mensagem que irá transformar o seu mundo. O passado arranja sempre forma de se intrometer no presente, e os acontecimentos prodigiosos de que foi protagonista na companhia do seu grande amigo, o Bobo, vão voltar a enredá-lo. Se conseguirem, nada na sua vida ficará igual…

Opinião:

Tinham passado muitos anos desde que li um livro de Robin Hobb. Por isso, quando soube que a Saga do Assassino e o Bobo ia ser publicada em Portugal, fiquei entusiasmada e, ao mesmo tempo, surgiu um certo receio. Temia não me recordar das personagens a que foi apresentadas há tanto tempo, não lembrar acontecimentos importantes e relevantes para a compreensão desta nova fase da história de Fitz. Felizmente, o tempo passou e as memórias mantiveram-se, o que só prova de que estas aventuras realmente deixam marcas.

O ritmo deste volume é um pouco lento, mas tal não significa que a narrativa não prenda o interesse. Levei mais tempo do que esperava com este livro, mas fico feliz por tal ter acontecido. Senti necessidade de saborear cada pedaço desta história e cada subtiliza que era narrada. Adorei o facto de uma vida de aparente calma e rotina poder esconder tantos segredos e acontecimentos entusiasmantes. As personagens causam-nos preocupação e queremos continuar a acompanhá-las, afinal parecem pessoas reais que fazem parte do nosso círculo de amigos. Tudo isto cativa e leva-nos a embrenhar-nos na história.

É curioso perceber de que forma Fitz evoluiu desde O Aprendiz de Assassino, primeiro livro que aborda as suas aventuras. Ele mantém a mesma essência, mas também revela ser o resultado de tudo o que lhe aconteceu. É curioso constatar os diferentes lados deste homem, nomeadamente a parte que aparenta aos outros e o que pensa de si próprio. Muitos o veem como duro, rude, contido, mas a verdade esconde um coração grande assim como muitas inseguranças, dores e dúvidas. É um homem que nos faz querer ver a ser mais expansivo com os seus pensamentos perante as pessoas que o amam-

A figura que mais me impressionou nesta leitura foi Abelha. A história ganha novos horizontes e torna-se ainda mais apelativa quando esta personagem surge. A sua singularidade cativa, ao início pela estranheza, depois pelo carinho e compaixão. Ela é uma menina muito diferente de qualquer outra e a sua natureza e verdade é um mistério que desejamos ver desvendado. Até lá, vamos juntando as peças do puzzle para entender o porquê de ser como é, aos mesmo tempo que torcemos pelo seu sucesso e evolução.

O encadeamento da acção está bem construído e, sem que o leitor se aperceba, vai acelerando o ritmo de uma forma muito subtil e gradual. Só mais perto do final sentimos tudo está a acontecer ao mesmo tempo, o que nos leva a devorar cada página com maior intensidade. Depois, de repente, o livro acaba com uma reviravolta que, apesar de já ser esperada, não deixa de causar surpresa pela forma como acontece. Terminada a leitura, fiquei com uma enorme vontade de continuar a acompanhar esta história. Tanto que, ainda nos dias seguintes, os meus pensamentos se dirigiam para este livro e para o desejo urgente de ter o segundo volume nas minhas mãos rapidamente.

Quero ainda realçar a capacidade da autora conseguir transmitir grandes sentimentos e emoções aos seus leitores. O amor é visível ao longo de todo a leitora, sendo mais evidente e tocante nos pequenos gestos. A angústia pelos que desapareceram faz-nos acreditar que também perdemos alguém que nos é querido. O terror, quer seja na maldade humana contra semelhantes ou animais, choca, choca muito, causa dor e incompreensão. Já a amizade é relevada em gestos de confiança inesperados e faz-nos ter esperança na humanidade e no futuro. Os gestos supérfluos repugnam e mostram-nos que, quem os pratica, tem menos de metade do valor e importância que julga possuir.

Robin Hobb consegue criar personagens com diferentes dimensões e, desta forma, fazermos acreditar que elas poderiam existir. Coloca-as numa história intrincada, que nos vai envolvendo aos poucos, ao ponto de já não a querermos largar. Fico muito feliz por esta autora continuar a ser uma aposta em Portugal, pois é realmente um dos nomes da actualidade mais importantes dentro do género. Agora, ao escrever estas palavras, fico ainda mais ansiosa pela publicação do próximo volume e pela continuação da história de Fitz.

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